A Barragem dos Patudos, localizada no concelho de Alpiarça, Portugal, é um recurso fundamental para a comunidade local, proporcionando abastecimento de água para a agricultura e atividades recreativas. No entanto, como muitos outros reservatórios em áreas agrícolas, a barragem enfrenta o problema de eutrofização, um processo desencadeado pelo excesso de nutrientes, principalmente nitratos e fosfatos. Estes elementos, frequentemente provenientes de fertilizantes usados nas atividades agrícolas, provocam o crescimento excessivo de algas e outras plantas aquáticas, comprometendo a qualidade da água e afetando negativamente o ecossistema aquático.
A eutrofização causa a formação de grandes volumes de biomassa, que, ao morrer e decompor-se, reduz o oxigénio disponível na água. Esse processo resulta em condições anóxicas (baixa ou ausência de oxigénio), que podem matar peixes e outros organismos aquáticos, comprometendo a biodiversidade da barragem e tornando a água inadequada para diversos usos.
Medidas Convencionais de Gestão e Limitações
A Câmara Municipal de Alpiarça, em parceria com diversas instituições ambientais, já implementou algumas medidas para mitigar os efeitos da eutrofização. Estas ações incluem a monitorização regular da qualidade da água e a aplicação de práticas agrícolas controladas para reduzir o escoamento de nutrientes. Além disso, foram instalados aeradores e sistemas de oxigenação da água para melhorar a qualidade do oxigénio dissolvido e combater as condições de anoxia.
Apesar desses esforços, o problema persiste, demonstrando que medidas convencionais muitas vezes não são suficientes para controlar o impacto ambiental de forma eficaz e duradoura. Por essa razão, a adoção de soluções permaculturais – que envolvem técnicas de design ecológico e regenerativo – pode representar um avanço significativo para a gestão sustentável da barragem.
Soluções Permaculturais: Uma Abordagem Integrada para a Qualidade da Água
A permacultura oferece uma abordagem abrangente para enfrentar os desafios ambientais, combinando a regeneração dos solos, o design das margens e a utilização de filtros biológicos naturais. Para o caso da Barragem dos Patudos, destacam-se duas práticas permaculturais especialmente eficazes: o uso de carvão ativado e a plantação de macrófitas ao longo das margens da barragem. Ambas as práticas, além de naturais e economicamente viáveis, promovem uma gestão integrada do ecossistema, abordando os poluentes diretamente nas suas fontes e proporcionando um ambiente mais equilibrado.
Carvão Ativado: Adsorção de Poluentes e Nutrientes
O carvão ativado é um material altamente poroso, caracterizado por possuir uma superfície interna extremamente ampla, que facilita a adsorção de várias substâncias químicas, incluindo contaminantes orgânicos e inorgânicos. Esta característica torna o carvão ativado uma ferramenta valiosa na purificação de água, pois pode reter pesticidas, herbicidas, e outros poluentes derivados de atividades agrícolas intensivas.
Na permacultura, o carvão ativado pode ser incorporado em sistemas de biofiltragem ao longo das margens da barragem, especialmente em zonas onde há maior fluxo de nutrientes oriundos das explorações agrícolas. Em vez de permitir que esses compostos cheguem diretamente à barragem, os filtros de carvão ativado instalados estrategicamente nas entradas de escoamento, capturam uma grande quantidade de poluentes. Esta técnica tem múltiplas vantagens, incluindo:
Capacidade de Renovação: O carvão ativado pode ser renovado ou substituído periodicamente, sendo uma solução sustentável a longo prazo.
Produção Local: Pode ser produzido a partir de resíduos de biomassa, como madeira e restos de poda, tornando-se economicamente acessível e alinhado com os princípios da economia circular defendidos pela permacultura.
Elevada Eficiência: A adsorção de nutrientes e compostos químicos pelo carvão ativado, reduz significativamente a quantidade de nutrientes que contribuem para a eutrofização, ajudando a restaurar o equilíbrio natural da água.
Estudos indicam que a aplicação de filtros de carvão ativado nas áreas de drenagem, pode reduzir em até 70% a carga de nutrientes e poluentes que chegam aos corpos de água.
Plantas Macrófitas: Biofiltração Natural e Estabilização das Margens
As plantas macrófitas, como o junco e a taboa, são aquáticas de crescimento rápido que têm uma elevada capacidade de absorver nutrientes diretamente da água, removendo nitratos e fosfatos em excesso. Em sistemas de permacultura, as macrófitas podem ser plantadas ao longo das margens da Barragem dos Patudos, criando zonas ripícolas que atuam como filtros biológicos e barreiras naturais contra a erosão.
A integração de macrófitas nas margens proporciona uma série de benefícios ecológicos:
Fitorremediação: As macrófitas absorvem nutrientes em excesso e metais pesados da água, purificando-a de forma natural. Este processo ajuda a reduzir o risco de eutrofização e promove um ambiente aquático saudável.
Habitat para a Fauna: Além de purificarem a água, as macrófitas criam habitats para várias espécies de peixes, aves e insetos, aumentando a biodiversidade da barragem.
Redução de Sedimentos: A plantação de macrófitas nas margens, também diminui o escoamento de sedimentos para a água, ajudando a manter a transparência e a sua qualidade.
Estas plantas, que crescem em água doce, são resistentes e não necessitam de manutenção intensiva, representando uma solução de baixo custo e fácil implementação. Além disso, ao serem utilizadas de forma estratégica nas áreas de maior escoamento de nutrientes, podem reduzir a dependência de sistemas de oxigenação artificiais e contribuir para um ecossistema mais resiliente.
Criação de Zonas Húmidas como Filtros Naturais
Além do uso de carvão ativado e macrófitas, a permacultura incentiva a criação de zonas húmidas ao redor de reservatórios de água. Essas áreas alagadas funcionam como filtros naturais, promovendo a deposição de sedimentos e a absorção de nutrientes antes de estes entrarem na barragem. Zonas húmidas podem ser construídas, usando vegetação nativa adaptada ao clima da região, criando uma camada adicional de proteção contra poluentes.
No contexto da Barragem dos Patudos, a criação de zonas húmidas pode ser implementada em áreas específicas das margens, onde o escoamento agrícola é mais intenso. Estas zonas atuarão como um buffer natural, absorvendo nutrientes e contaminantes e ajudando a estabilizar a qualidade da água ao longo do tempo.
Benefícios Adicionais da Abordagem Permacultural
Além das vantagens diretas na qualidade da água, a adoção de práticas permaculturais contribui para a sustentabilidade da paisagem agrícola em redor da Barragem dos Patudos. A implementação de sistemas de gestão de água e solo baseados na permacultura, pode reduzir a dependência de fertilizantes sintéticos e promover práticas agrícolas regenerativas. Esses métodos são mais sustentáveis, ajudam a conservar os solos e podem diminuir o impacto ambiental das atividades agrícolas locais.
A introdução de conceitos de permacultura também promove a participação da comunidade e a educação ambiental, incentivando práticas de conservação e gestão de recursos hídricos. Ao envolver os agricultores e a população local, é possível desenvolver uma abordagem colaborativa para a preservação da Barragem dos Patudos, garantindo que a qualidade da água seja mantida a longo prazo.
Conclusão
A aplicação de conceitos permaculturais, como o uso de carvão ativado e plantas macrófitas, oferece uma alternativa viável e sustentável para enfrentar o problema da eutrofização na Barragem dos Patudos. Estas práticas, que utilizam recursos locais e métodos naturais, contribuem para a melhoria da qualidade da água e promovem a resiliência do ecossistema aquático.
Os benefícios vão além da purificação da água, estendendo-se à conservação da biodiversidade, à proteção contra erosão e ao envolvimento comunitário. Com a adoção destas práticas, é possível criar um sistema de gestão hídrica mais robusto e sustentável, que garante a saúde ecológica da barragem e melhora a qualidade de vida da população local.

Transfomar o Investimento em Receita
O uso de carvão ativado pós-filtração em solos agrícolas, apresenta benefícios ecológicos e um retorno financeiro interessante, dado o potencial para reduzir o custo de fertilizantes e maximizar a produtividade agrícola.
Quando aplicado ao solo, o carvão ativado, enriquecido com nitratos, fosfatos e outros nutrientes adsorvidos durante o processo de filtração, atua como uma fonte controlada de nutrientes. A sua capacidade de troca catiônica (CTC) elevada, permite a libertação gradual e sustentável de nutrientes, minimizando a lixiviação e permitindo que as plantas os absorvam de forma mais eficiente. A estrutura microporosa do carvão, favorece a retenção de água, aumentando a capacidade de campo e, portanto, beneficiando plantas em climas mais secos e em solos com baixa fertilidade.
Processo de Preparação e Aplicação no Solo
Para assegurar a segurança ambiental, é essencial realizar uma análise pormenorizada dos contaminantes adsorvidos pelo carvão. O carvão ativado deve ser submetido a uma etapa de lixiviação, eliminando compostos potencialmente fitotóxicos ou bioacumulativos, como metais pesados. Após esta purificação, o carvão pode ser aplicado diretamente em camadas superficiais do solo agrícola ou misturado com compostos orgânicos.
Retorno Financeiro e Sustentabilidade
Do ponto de vista financeiro, a comercialização do carvão ativado, reduz significativamente os custos de investimento no sistema de remediação d eutrofização. A integração do carvão como aditivo agrícola, pode ainda ser comercializada como um serviço ambiental inovador, com apelo tanto em políticas de economia circular quanto em certificações de sustentabilidade, que têm valorização no mercado. Este sistema fecha o ciclo de tratamento de eutrofização e permite que as entidades envolvidas no tratamento da Barragem dos Patudos ofereçam uma solução de valorização de resíduos orgânicos, transformando o passivo ambiental em ativo agrícola. Esta abordagem reduz também a carga poluente nos recursos hídricos, o que favorece o cumprimento de regulamentações ambientais e evita sanções, reforçando o retorno financeiro e a aceitação por parte da sociedade.